Claro, Vivo e Tim vencem leilão das principais faixas do 5G



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As maiores operadoras de telefonia móvel do país, Claro, Vivo e Tim, arremataram as principais faixas do leilão de 5G realizado nesta quinta-feira (4) pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

O certame confirmou a expectativa de que as operadoras de grande porte ficariam com as frequências de 3,5 GHz (gigahertz), o chamado "filé mignon" do 5G com cobertura nacional, faixa que permitirá velocidades até cem vezes mais rápidas que as do 4G.  

Essa frequência foi separada em quatro lotes, um deles não recebeu proposta. A expectativa na Anatel é de que 80% das frequências sejam leiloadas, o que levaria a agência a, futuramente, realizar uma nova rodada de leilões com as sobras.

A Claro arrematou o primeiro lote por R$ 338 milhões. A oferta da Vivo para a segunda fatia foi de R$ 420 milhões. A Tim, por sua vez, venceu o terceiro lote por R$ 351 milhões.

Na frequência de 700 MHz (megahertz), que permite ampliação das redes de 4G, o primeiro lote marcou a entrada do fundo Patria na telefonia. Ele arrematou a frequência de 700 MHz com cobertura nacional, oferecendo lance de R$ 1,4 bilhão, com ágio de 805,8%.

Como vencedor desse lote, o Patria terá que levar o 4G a mais de 1.100 trechos de rodovias federais.

O leilão seguiu com a abertura de lotes com coberturas regionais na faixa de 3,5 GHz. Houve disputa para os blocos das regiões Nordeste e Sul.

No Nordeste, a empresa Brisanet venceu a disputa com um lance de R$ 1,25 bilhão, ágio de 13.741,7%. Ela poderá oferecer o 5G em toda a região. O grupo, sediado no Ceará, levou também as frequências de 3,5 GHz para cobrir a região Centro-Oeste.

No bloco da região Sul houve uma intensa disputa entre o Consórcio 5G Sul (do qual faz parte a Copel e a Sercomtel, do empresário Nelson Tanure) e a Meganet. Após 15 lances, o Consórcio 5G Sul venceu com uma oferta de R$ 73,6 milhões, registrando ágio de 1.454,74%

A Cloud2U se tornou uma nova empresa de telefonia ao vencer o lote que abrange Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais com um lance de R$ 405 milhões, ágio de 6.266%.

A Algar ficou com o último lote regional cobrindo o triângulo mineiro, e partes do Mato Grosso do Sul e Goiás, áreas já atendidas pela empresa como concessionária de telefonia fixa. A empresa ofereceu R$ 2,35 bilhões, ágio de 358,5%

Incluído no PPI (Programa de Parceria de Investimentos), o leilão do 5G vai reforçar a lista de concessões realizadas no governo e será usado por Jair Bolsonaro como plataforma política durante a campanha pela reeleição em 2022.

Serão ao menos R$ 40 bilhões em investimentos obrigatórios ao longo de 20 anos para massificar a cobertura 4G e reforçar a infraestrutura de conexão das cidades, sem contar os recursos a serem destinados para a construção da rede 5G propriamente dita.

Até julho de 2022, o serviço de telefonia de quinta geração doi o padrão tecnológico a ser imposto para as novas redes.

As operadoras pretendiam utilizar as redes atuais (4G e 3G) adicionando equipamentos 5G sobre elas, mas a Anatel, sob orientação do ministério, impôs um padrão mais moderno, o chamado "release 16", que exige a construção de redes totalmente independentes das atuais dedicadas exclusivamente ao 5G.

Bolsonaro chegou a dizer publicamente que somente com essa rede será possível estimular a economia por meio de novas aplicações, como a telemedicina (com atendimentos e cirurgias à distância, por exemplo), carros teleguiados, fábricas inteligentes e lavouras totalmente conectadas.

Essas modalidades deverão aumentar não só a produtividade da economia como gerar mais riqueza. Consultorias especializadas em telecomunicações estimam que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil poderá crescer até R$ 6,5 trilhões ao longo de três décadas caso o 5G seja implantado na sua versão mais moderna.

Bolsonaro, que até o momento não conseguiu entregar a maior parte das reformas estruturantes prometidas, coleciona problemas na condução da pandemia e sofre de queda de popularidade, busca boas notícias para tentar se viabilizar à reeleição —a chegada do 5G é uma delas.

Boa parte do atraso do leilão, no entanto, se deve ao próprio governo que ameaçou impor restrições e até banir a chinesa Huawei da construção das redes 5G.

Isso ocorreu porque Bolsonaro se alinhou estrategicamente com o ex-presidente dos EUA Donald Trump, que entrou em uma guerra geopolítica com a China.

Um dos alvos escolhidos foi a Huawei, a maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo. Naquele momento, impor uma sanção desse porte —como ocorreu em alguns países parceiros dos EUA— significaria obrigar as operadoras a trocarem praticamente todo o parque de antenas e de equipamentos em uso.

Isso porque os equipamentos 5G de outros fabricantes não conversam com aparelhos 4G e 3G da Huawei. As teles calculavam um atraso de ao menos três anos para efetuar essa troca a um custo de ao menos R$ 100 bilhões, valor que teria de ser indenizado pelo governo.

A saída encontrada pelo ministro Fábio Faria foi determinar que os vencedores do leilão construíssem uma rede privativa para a administração pública federal. Nessa rede não haveria equipamentos chineses.

Outra medida foi tornar obrigatório o investimento na conexão da região amazônica, um projeto defendido principalmente pelos militares da ala ideológica do governo. O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) foi um dos mais resistentes à participação da Huawei no mercado nacional.

Atualmente, a empresa chinesa está presente em praticamente todas as operadoras. Ela domina mais de 80% desse mercado.


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