BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As maiores operadoras de telefonia móvel do país, Claro, Vivo e Tim, arremataram as principais faixas do leilão de 5G realizado nesta quinta-feira (4) pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
O certame confirmou a expectativa de que as operadoras de grande porte ficariam com as frequências de 3,5 GHz (gigahertz), o chamado "filé mignon" do 5G com cobertura nacional, faixa que permitirá velocidades até cem vezes mais rápidas que as do 4G.
A Claro arrematou o primeiro lote por R$ 338 milhões. A oferta da Vivo para a segunda fatia foi de R$ 420 milhões. A Tim, por sua vez, venceu o terceiro lote por R$ 351 milhões.
Na frequência de 700 MHz (megahertz), que permite ampliação das redes de 4G, o primeiro lote marcou a entrada do fundo Patria na telefonia. Ele arrematou a frequência de 700 MHz com cobertura nacional, oferecendo lance de R$ 1,4 bilhão, com ágio de 805,8%.
Como vencedor desse lote, o Patria terá que levar o 4G a mais de 1.100 trechos de rodovias federais.
O leilão seguiu com a abertura de lotes com coberturas regionais na faixa de 3,5 GHz. Houve disputa para os blocos das regiões Nordeste e Sul.
No Nordeste, a empresa Brisanet venceu a disputa com um lance de R$ 1,25 bilhão, ágio de 13.741,7%. Ela poderá oferecer o 5G em toda a região. O grupo, sediado no Ceará, levou também as frequências de 3,5 GHz para cobrir a região Centro-Oeste.
No bloco da região Sul houve uma intensa disputa entre o Consórcio 5G Sul (do qual faz parte a Copel e a Sercomtel, do empresário Nelson Tanure) e a Meganet. Após 15 lances, o Consórcio 5G Sul venceu com uma oferta de R$ 73,6 milhões, registrando ágio de 1.454,74%
A Cloud2U se tornou uma nova empresa de telefonia ao vencer o lote que abrange Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais com um lance de R$ 405 milhões, ágio de 6.266%.
A Algar ficou com o último lote regional cobrindo o triângulo mineiro, e partes do Mato Grosso do Sul e Goiás, áreas já atendidas pela empresa como concessionária de telefonia fixa. A empresa ofereceu R$ 2,35 bilhões, ágio de 358,5%
Incluído no PPI (Programa de Parceria de Investimentos), o leilão do 5G vai reforçar a lista de concessões realizadas no governo e será usado por Jair Bolsonaro como plataforma política durante a campanha pela reeleição em 2022.
Serão ao menos R$ 40 bilhões em investimentos obrigatórios ao longo de 20 anos para massificar a cobertura 4G e reforçar a infraestrutura de conexão das cidades, sem contar os recursos a serem destinados para a construção da rede 5G propriamente dita.
Até julho de 2022, o serviço de telefonia de quinta geração doi o padrão tecnológico a ser imposto para as novas redes.
As operadoras pretendiam utilizar as redes atuais (4G e 3G) adicionando equipamentos 5G sobre elas, mas a Anatel, sob orientação do ministério, impôs um padrão mais moderno, o chamado "release 16", que exige a construção de redes totalmente independentes das atuais dedicadas exclusivamente ao 5G.
Bolsonaro chegou a dizer publicamente que somente com essa rede será possível estimular a economia por meio de novas aplicações, como a telemedicina (com atendimentos e cirurgias à distância, por exemplo), carros teleguiados, fábricas inteligentes e lavouras totalmente conectadas.
Essas modalidades deverão aumentar não só a produtividade da economia como gerar mais riqueza. Consultorias especializadas em telecomunicações estimam que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil poderá crescer até R$ 6,5 trilhões ao longo de três décadas caso o 5G seja implantado na sua versão mais moderna.
Bolsonaro, que até o momento não conseguiu entregar a maior parte das reformas estruturantes prometidas, coleciona problemas na condução da pandemia e sofre de queda de popularidade, busca boas notícias para tentar se viabilizar à reeleição a chegada do 5G é uma delas.
Boa parte do atraso do leilão, no entanto, se deve ao próprio governo que ameaçou impor restrições e até banir a chinesa Huawei da construção das redes 5G.
Isso ocorreu porque Bolsonaro se alinhou estrategicamente com o ex-presidente dos EUA Donald Trump, que entrou em uma guerra geopolítica com a China.
Um dos alvos escolhidos foi a Huawei, a maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo. Naquele momento, impor uma sanção desse porte como ocorreu em alguns países parceiros dos EUA significaria obrigar as operadoras a trocarem praticamente todo o parque de antenas e de equipamentos em uso.
Isso porque os equipamentos 5G de outros fabricantes não conversam com aparelhos 4G e 3G da Huawei. As teles calculavam um atraso de ao menos três anos para efetuar essa troca a um custo de ao menos R$ 100 bilhões, valor que teria de ser indenizado pelo governo.
A saída encontrada pelo ministro Fábio Faria foi determinar que os vencedores do leilão construíssem uma rede privativa para a administração pública federal. Nessa rede não haveria equipamentos chineses.
Outra medida foi tornar obrigatório o investimento na conexão da região amazônica, um projeto defendido principalmente pelos militares da ala ideológica do governo. O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) foi um dos mais resistentes à participação da Huawei no mercado nacional.
Atualmente, a empresa chinesa está presente em praticamente todas as operadoras. Ela domina mais de 80% desse mercado.