A Constituição sócio-espacial e histórica do município de Laguna Carapã, por Nilton Cezar


assessoria

Nilton Cezar Guimarães da Silva, Licenciado e Bacharel em Geografia pela UFMS Pós Graduado em Gestão Escolar.

A CONSTITUIÇÃO SÓCIO-ESPACIAL E HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE LAGUNA CARAPÃ

O território que constitui o município de Laguna Carapã teve em sua formação a influência determinante da economia ervateira. Sobre esse determinante faremos um breve histórico.

Com o final da guerra do Paraguai (1870), teve início o processo de povoamento pela população não-índia no Sul do Estado de Mato Grosso do Sul, apesar de já ter sido percorrido pelos espanhóis e pelos bandeirantes, que buscavam riquezas naturais e indígenas para servirem como mão de obra. No pós-guerra, houve a fixação de ex-combatentes e a vinda de gaúchos fugitivos das conseqüências da Revolução Federalista ocorrida no Rio Grande do Sul, entre os anos de 1893 e 1895. Contribuiu ainda, no processo de ocupação, penetração da cultura pastoril originária do Estado de Minas Gerais e, principalmente a atuação da Companhia Mate Laranjeira, que era de propriedade de Tomaz Laranjeira, que desenvolveu a indústria ervateira.

Tomaz Laranjeira adquiriu algumas propriedades, entre elas a do Campanário, na época pertencente ao município de Ponta Porã, passando então a explorar a erva mate. Laranjeira deteve o monopólio da exploração dos ervais produtores da erva mate em toda a região Sul entre os anos de 1882 a 1924. A Companhia Mate Laranjeira, eram uma das mais conhecidas iniciativas empresariais do negócio da erva, chegou a possuir no Sul do Estado e, principalmente no município de Ponta Porá, 500.000 hectares. Boa parte da erva mate era exportada para países vizinhos como a Argentina. A Companhia Mate Laranjeira formou um verdadeiro império através do arrendamento de terras, impedindo que posseiros entrassem em seus domínios.

Sua sede administrativa estava localizada na Fazenda Campanário, que pertencia ao município de Ponta Porã. Com o desmembramento de parte do território do município de Ponta Porã e a criação do município de Laguna Carapã em 22 de abril de 1992, parte da Fazenda Campanário, principalmente a sua sede, passou a pertencer ao recém-criado município.

A Fazenda Campanário foi historicamente importante para o município de Laguna Carapã, por conter a história do processo de ocupação através da exploração dos ervais nativos.

Campanário foi fundado no final da década de 10. Nos ervais de Jahapemy. Em 1923 foi administrada por Heitor Mendes Gonçalves, que promoveu uma remodelação na organização da cidade e nas relações de trabalho. Sob sua administração, a exploração da erva mate foi reestruturada e os funcionários nas funções de dirigentes foram escolhidos a partir de novos critérios.

A Companhia Mate Laranjeira progrediu com a atividade apenas extrativa e cresceu em importância, tendo participado da vida econômica,

Política e social do Estado de Mato Grosso e interferido de forma mais contundente a partir da ação dos irmãos Murtinho. Empregava mão de obra de maioria paraguaia e argentina. No início estava instalada no Paraguai, mas passou a operar no Brasil, instalando suas administrações em Santo Tomás, Murtinho e Campanário.

  

A IMPORTÂNCIA DA FAZENDA CAMPANÁRIO PARA LAGUNA CARAPÃ

Laguna Carapã, que fazia parte de Ponta Porã nessa época, sentiu mais diretamente as repercussões da atividade ervateira desde o seu início. Campanário tinha tudo que uma cidade deveria ter: água encanada, esgoto, luz elétrica, boas casas, além dos edifícios da administração, padaria, açougue, matadouro, curtume, além de hospital, escola, farmácia, cemitério, hotel, um cassino e um cinema, quadras de esporte e pistas de equitação. Esse espaço preteritamente produzido ainda mantém suas heranças no município de Laguna Carapã.

Campanário era servido por sua vez por estradas de rodagem que a ligavam a Ponta Porã, a Porto Felicidade e, na década de 30, a Porto D. Carlos, de onde se seguia para Guairá.

O então Prefeito Municipal de Ponta Porã (Pedro Manvailer) em 09 de agosto de 1941, homenageando o Imperador D.Pedro II, decretou que a gleba de 600 hectares de terras doada ao município pelo senhor Defino Vieira e sua mulher D. Dacilia Escobar Vieira, no distrito de Lagunita teria como denominação Pedro II – que é o atual distrito de Lagunita, em Laguna Carapã. Em 29 de setembro de 1959, através do Decreto nº 639, o Prefeito do município de Ponta Porã, Hélio Pellufo, no uso de suas atribuições e dando cumprimento a segunda parte do artigo 6º da Lei nº197 de 31 de outubro de 1951, decretou que ficasse aprovada a planta da vila do Bocajá, a planta em apreço é constituída de vinte e um quarteirões, medindo cada 120x120 metros. Foi assim constituindo-se político-administrativamente o território do atual município.

O espaço de Laguna tem registrado as repercussões da economia ervateira e mesmo quando esta se faz menos presente, as influências construíram suas marcas.

O que mais existia nas terras de Laguna Carapã era o cultivo da erva mate e que logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) a exportação desse produto diminuiu muito. Essa diminuição foi conseqüência da redução da importação pela Argentina, em função da maior produção obtida nos seus próprios ervais.

Além disso, a economia ervateira do Sul de Mato Grosso sofreu um colapso com o desaparecimento da Cia. Mate Laranjeira que não conseguiu renovar o seu contrato com o Governo Estadual. Logo após a decadência da Companhia Mate Laranjeira e o cancelamento do contrato de arrendamento pelo Governo, as terras passaram a ser distribuídas em lotes de 100 hectares ou mais, para moradores locais que requereram terra. Essas terras foram vendidas a preço acessíveis aos moradores. Essas terras apenas puderam ser adquiridas por particulares porque não houve a renovação do contrato de arrendamento pelo Mate Laranjeira e também pelo fim dos contratos de exportação para a Argentina com o passar dos anos o governo passou a entregar os títulos definitivos de posse dessas terras.

Naquela época o único meio de transporte existente era um carrinho Fordeco de propriedade do Srº Sindoca Vasques, que era usado também para transportar o povo quando alguém ficava doente, mas o principal meio de transporte de carga era o transporte animal, demonstrando a precariedade dos meios de transporte particulares. A comunicação pelo transporte com as cidades vizinhas foi possível a partir de 1955, quando o irmão do Srº Lolli Guetti adquiriu um veículo que naquela época era mais conhecido como jardineira.

 

A ORGANIZAÇÃO DA POLICULTURA E A INSERÇÃO DAS CULTURAS DE EXPORTAÇÃO.

 

Por volta dos anos quarenta praticamente não existia lavoura. Cada um dos moradores plantava apenas para a subsistência utilizando-se de técnicas manuais. Já nos anos sessenta a agricultura permanecia voltada para a subsistência da família e a parte excedente comercializada com os compradores que vinham de São Paulo, com seus caminhões. Os produtos mais cultivados eram feijão, arroz e milho.

Nos anos de 1946 e 1947as dificuldades foram muitas, pois não havia nenhum meio de comunicação rápido. Isso refletia no comércio. O primeiro comércio surgiu em 1938, do Srº Estanislau. O mesmo estava localizado no entroncamento da Central e ali se comercializava diversos produtos como: remédio, ferragens, tecidos, secos e molhados. Com a morte do Srº Estanislau, seu herdeiro o Srº Lolli Guetti, ampliou as instalações e o volume de mercadoria, pois já atendia além de moradores locais, os que vinham da Lagunita e até do Guaíba. As compras maiores eram realizadas no município de Dourados.

A inserção comercial ocorre a partir das frotas de caminhões que chegavam de São Paulo com o objetivo de adquirir a produção local.

A partir do início da década de setenta, o então Distrito de Laguna Carapã começou a adquirir novas características relacionadas a organização da sua produção agrícola e ao desenvolvimento da atividade pecuária. Essas mudanças passaram a serem vivenciadas não só pelos que já moravam no Distrito, mas, principalmente pelos imigrantes provenientes da região Sul do país. Esses foram responsáveis pela implantação das novas técnicas que proporcionavam avanços no aumento da produção agrícolas para as culturas de soja, milho e trigo. Um dos fatores de atração desses imigrantes vindos da região Sul foram os solos férteis.

Nos anos oitenta muitos imigrantes se fixaram em Laguna Carapã a fim de explorar a agricultura. Grande parte passou a empregar tecnologias modernas, transformando as características da produção agrícola. Essas alterações ocorreram devido à introdução de produtos voltados a exportação, tais como: soja, milho e trigo. Esses produtos passaram a compor a base econômica do município. Isso provavelmente colaborou na emancipação do distrito, separando-o de Ponta Porã.

A hegemonia da erva mate, posteriormente substituída pela policultura de subsistência e pela agricultura comercial voltada ao abastecimento do mercado interno do Sudeste e as culturas voltadas à exportação, foram as atividades historicamente responsáveis pela produção do espaço geográfico do município de Laguna Carapã. Essa seqüência, embora não tão linear, porque as transformações provocadas por cada uma delas ficaram materializadas, são os determinantes na constituição sócio-espacial do município.

Administrativamente, as leis e a constituição dos distritos foram organizando o que atualmente é reconhecido como município de Laguna Carapã. Nas primeiras décadas do século XX, o município de Ponta Porá tinha como um de seus distritos, o Bocajá, conhecido como Lagunita, com sede nessa vila. Nessa época, a população do Distrito do Bocajá era de 201 habitantes na zona urbana e 3.575 na área rural. Em 20 de novembro de 1958, Laguna Carapã foi elevada à categoria de Distrito, através do Decreto Lei nº 1.163, instalando em 1º de janeiro de 1995. Foi desmembrada de Bocajá. Sua população urbana era de 233 habitantes e a população rural de 1.010 habitantes. A sede ficou na povoação de Carapã, Município de Ponta Porã.

 

A CONSTITUIÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO DO MUNICÍPIO DE LAGUNA CARAPÃ.

 

Em 22 de abril de 1992 o governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Srº Wilson Barbosa Martins, criou o município de Laguna Carapã, através da lei nº 1.261.

O território do município pertence à Microrregião de Dourados e Mesorregião do Sudeste do Mato Grosso do Sul, com as seguintes coordenadas geográficas: 22º 33`14” de latitude Sul e 55º 09`02” de longitude Oeste. Limita-se ao Norte com o município de Dourados, ao Sul com município de Aral Moreira e Amambaí, a Leste com Caarapó e a Oeste com Ponta Porã. Sua área territorial é de 1.721km². Seu solo é bastante fértil, com predominância de lato solo roxo e lato solo Vermelho-escuro e tem como unidade de relevo o planalto com altitude de 511metros. Pertence à subunidade Planalto de Maracaju e Planalto de Dourados. O município tem como recursos hídricos os rios: Dourado, Piratini, Guaimbé-Pery, Amambai e Ribeirão Douradilho, além de vários córregos existentes dentro do território e nos limites do município.

O seu clima é tropical sub-quente úmido com temperatura mínima de em torno de10º C, temperatura média de 20-24º C e a máxima de 35º C. A precipitação pluviométrica média anual é de 1500-1600 mm, com período de menor incidência no inverno e predomínio de maiôs incidência no verão.

Está distante da capital Campo Grande, 281 km. Possui duas aldeias indígenas que se localizam ao sul do município e são denominadas de Rancho do Jacaré e Aldeia Guaimbé.

O município de Laguna Carapã, hoje cognominado “A terra do pé de soja solteiro”, teve em seu desenvolvimento sócio-econômico características variáveis, mas observa-se que os principais fatores que contribuíram para o seu desenvolvimento econômico foram à agricultura e a pecuária. 

 

A DINÂMICA DEMOGRÁFICA

 

De acordo com a secretaria de saúde, a população residente no município em 2008 foi de 6.410 habitantes. Sendo que desse total 2.318 residem na zona rural e 4.092 estão na zona urbana. O município possui duas áreas indígenas denominadas Rancho Jacaré que tem 70 famílias, num total de 350 pessoas e a Aldeia Guaimbé com 80 famílias, e possui 385 pessoas de acordo com dados do Plano municipal de Educação do referido ano. Para 2021 a população estimada era de 7.496 habitantes. No último censo disponível 2010 a mesma era de 6.491 habitantes e com uma densidade demográfica de 3,74 hab/ km². Para maiores informações acesse o site https://www.ibge.gov.br.

   

Na época das safras há no município um grande aumento na população, devido aos empregos temporários que surgem nesse período, população esta que varia de mês a mês e de ano a ano. Observa-se que os meses nos quais mais surgem empregos temporários são os meses entre Agosto e Março nas colheitas de soja e milho; diminui entre os meses de Abril e julho, voltando a crescer a partir de agosto, com oscilações a partir de setembro.

OS DETERMINANTES NA CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO RURAL DO MUNICÍPIO: AS PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS.

 

O município de Laguna Carapã possui relativa diversificação tanto na produção agrícola como na produção pecuária. Na produção agrícola, o município produziu, nos últimos anos, aveia branca, canola, girassol, mandioca, sorgo, trigo, cana de açúcar e principalmente o soja e o milho. Na produção pecuária o município tem se destacado na pecuária de corte e de leite. Há uma produção pouco expressiva de bufalinos e eqüinos, asininos e muares, destinados aos serviços gerais.

Laguna Carapã tem expandido sua área cultivada se tornando um dos grandes produtores de grãos de soja e milho da porção meridional do Estado. Um fator que contribuiu para o desenvolvimento de agricultura foi à vinda de muitos imigrantes da região Sul do país a partir dos anos setenta e oitenta. Grande parte passou a empregar tecnologias modernas transformando as características da produção agrícola e ate mesmo com melhorias na pecuária extensiva. Essas alterações na produção ocorrem devido a introdução de produtos voltados a exportação. Esses produtos passaram a compor a base econômica do município.

DISTRIBUIÇÃO DO USO DO SOLO

PASTAGENS NATURAIS E PASTAGENS PLANTADAS

 

As pastagens naturais são constituídas pelas áreas destinadas ao pastoreio do gado, sem terem sido formadas mediante plantio, ainda que tenha recebido algum trato. No decorrer dos anos grandes investimentos vêm acontecendo na formação do pasto e lavouras especialmente de soja e milho, e isso justifica a melhoria expressiva da agropecuária do município.

        

MATAS NATURAIS E PLANTADAS

As matas naturais são formadas pelas áreas de matas e florestas naturais utilizadas para extração de produtos ou conservadas como reservas florestais.

TERRAS PRODUTIVAS NÃO UTILIZADAS

 

As terras produtivas não utilizadas são constituídas pelas áreas que se prestava a formação de culturas, pastos ou matas e não estão sendo usadas para tais finalidades.

EDUCAÇÃO

O nosso município é composto por sete escolas, entre elas são três na zona urbana: Álvaro Martins dos Santos, a única escola estadual presente no município. As outras são todas municipais: Professora Judith dos Reis Espindola e o Centro de Educação Infantil Dolvanino Triches.

Na zona rural temos a Escola Polo Campanário e Extensão Delfino Vieira, e duas escolas indígenas: Escola MBO’Eroy Jeguaka Poty - Cocar de Flores - Guaimbé e Escola MBO’Eroga Okara Poty – Terreiro de Flores - Jacaré.

POLITICA

Desde a emancipação do município de Laguna Carapã, tivemos cinco  prefeitos, a primeira eleição ocorreu em 1992, onde foi eleito o Srº José Evaldo Oliveira. Na segunda eleição em 1996 o povo elegeu o Srº Luiz Carlos Rocha Lima, no final do mandato ele saiu para fazer campanha política para a próxima eleição deixando em seu lugar o vice-prefeito Ilvo Dalbosco, no ano de 2000 o Srº Luiz Carlos Rocha Lima volta a prefeitura após ser reeleito. Em 2004, Oscar Luiz Pereira Brandão foi o nosso terceiro prefeito, que ficou a frente de nosso município, porque foi reeleito em 2008, ficando até o final de 2012. Nas eleições de 2012 Itamar Bilibio se tornou o novo prefeito de Laguna Carepa, foi reeleito em 2016 assumiu novamente em 2017 e ficou no executivo até o final de 2020. Nas eleições municipais de 2020, foram eleitos o atual Prefeito Ademar Dalbosco e a Vice-Prefeita Zenaide Espindola, os mesmos tomaram posse em 2021 e ficarão no cargo até ao final de 2024.

COMPOSIÇÃO DO ATUAL LEGISLATIVO

Marcio Brandão Gutierres; Vereador (Presidente);

Alessandra Ribas de Araujo;

Demilson Dias da Silva;

Eduardo de Oliveira;

Flavio de Oliveira;

Valmor Flores Pinto;

Vander Henrique Nunes Dosso;

Paulino Effting;

Alexsandro Marques Cordeiro.

 

Autor: Nilton Cezar Guimarães da Silva,

Licenciado e Bacharel em Geografia pela UFMS

Pós Graduado em Gestão Escolar.

Professor da Rede Estadual de Educação de 1997 até 2007 no município de Laguna Carapã,

Professor concursado da Rede Municipal de Educação de Laguna Carapã desde 2003,

Diretor das Escolas Rurais  de Laguna Carapã desde 2015.

 


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