Tráfico Humano: fonte de riqueza


Rádio Coração

 Não! Não estou falando de agronegócio, tecnologia de ponta, de modernas indústrias, estou me referindo ao dinheiro ganho com a tragédia humana, esquecida nas agitadas esquinas existenciais dos tempos (pós) modernos.

 

Confesso que ao ouvir falar da Idade das Trevas, em certos ambientes, numa referência à Idade Média fico inquieto, porque de fato, foram tempos difíceis, inquieta-me mais ainda verificar que a chamada “Idade das Luzes”, vigente, com seus avanços tecnológicos-científicos, gere situações inimagináveis. Poderia citar inúmeras, mas bastam algumas: a calamidade provocada pelas drogas, 60 mil homicídios anualmente no Brasil, 70 mil cristãos assassinados no mundo, no ano de 2013.Porém, desejo brevemente tratar o tema do “Tráfico Humano”, que será abordado pela Campanha da Fraternidade de 2014, Campanha que todos os anos é proposta aos brasileiros pela Igreja Católica Apostólica Romana e, em determinados anos, em parceria com outras Igrejas Cristãs.

A escravidão dos irmãos africanos é conhecida por todos, provavelmente eu também tenha descendência africana por parte da avó materna; na universidade o tema foi sempre tratado com uma desgraça, uma das maiores da história humana.No nosso tempo, considerado como era do consumo e do lucro, encontramos está barbárie, que precisa ser entendida como muito mais perniciosa que a barbárie do passado, porque não é possível imaginar que o ser humano que viaja à Lua, que perscruta o fundo dos oceanos, que fez do planeta, através dos meios modernos de comunicação e locomoção, uma aldeia global, permita, exatamente neste período, enfrentarmos situações tão miseráveis. Gostaria que houvesse nas academias e em todas as instâncias educacionais, assim como, na sociedade em geral, uma profunda reflexão sobre esse mal que assola o planeta. Para colaborar com o desarraigamento desta desgraça, a Campanha da Fraternidade de 2014 quer “identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e pessoas de boa vontade para erradicar este mal com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus”.Pensando como cidadão da “Idade das Luzes”, isto é, da nossa época, e como cristão, que não poderia ser algo dicotômico, só posso imaginar que os valores da pessoa humana, tão valorizados pelo cristianismo, rapidamente estamos nos deixando suplantar por antivalores, como a luxúria, a ganância, expressas na busca do lucro sem princípios, numa cultura do consumo de toda matéria prima do planeta, onde a carne humana não passa de um objeto, seja para o consumo em forma de trabalho escravo, seja em forma de exploração sexual ou para venda de órgãos, geralmente, neste último caso para salvar a vida de ricos inescrupulosos, no penúltimo para satisfazer as doenças psicológicas permitidas pela mesma sociedade, que as aprovam em forma de “direitos”.

A Igreja propõe uma análise sobre o tema, para que todos coloquem a mão na consciência e procurem ajudar a erradicar este infortúnio humano, que expressa cristãmente falando, a vida de pecado em que vivemos, porque o pecado gera morte, e o Tráfico Humano, não é fruto de uma cultura de vida, mas da anticultura do descartável. Que Deus não nos permita admitir, como em tempos idos, que o ser humano, podada a sua liberdade, sirva de material para produzir fortuna nas mãos de pessoas desprovidas de consciência dos verdadeiros valores da vida. Não podemos ficar insensíveis, sem assumir a causa dos irmãos, filhos do mesmo Deus e com os mesmos direitos, se não fizermos algo para acabar com tais crimes, pecamos por conivência.

Nacionalmente a Campanha da Fraternidade será aberta na Quarta-Feira de Cinzas e em Dourados, dia 09 de março, às 17h na celebração da Eucaristia, em frente à Catedral. Como São Paulo, nos exortemos mutuamente: “é para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).


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