Dia do Professor


Por diariodopoder

Por Nelson valente 

Parabéns, professor. Não só hoje pelo seu dia. Mas parabéns pelos dias de angústia superados, pelos problemas educacionais enfrentados, pelas alegrias compartilhadas, pelas conquistas alcançadas. Somos verdadeiros heróis. Heróis por mantermos acesa a fagulha que descortina a sombra do analfabetismo e que promove a vida a partir dos conhecimentos transmitidos.

Texto do Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963, estabelece que “Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função de mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias”. A normativa pretendia padronizar a data, cuja origem remonta à primeira iniciativa de construção de um sistema público educacional, ocorrida no Brasil imperial de 1827. Exaltada muito mais como um missionário que um profissional, essa categoria vive uma luta por reconhecimento permanente. A educação básica pública sempre se confundiu com a ideia de cuidado; escolas normais que formavam professores tinham em sua ampla maioria a presença da mulher, exatamente por considerar que à mulher cabia o papel de cuidar e educar. O ensino superior, por sua vez, era predominantemente masculino e desde sempre com melhores salários.

Isto posto, neste 15 de outubro de 2019, em que se celebra o Dia do Professor, é importante afirmar que o principal a comemorar é o reconhecimento da maioria da sociedade ao papel fundamental destes profissionais, bem como da escola pública, que é a principal alavanca para o desenvolvimento das nações.

Melhorar a educação brasileira, de um modo geral, pode ser uma utopia? Depende, naturalmente, da existência de uma política séria, no setor, conduzida por pessoas competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político.

Qual é o milagre que se espera? É nesse panorama que, hoje, se abre uma larga discussão em torno do futuro da educação brasileira?

O curioso é que pouco se fala na formação e no aperfeiçoamento dos professores, em todo esse processo. Temos quase 3 milhões deles, no Brasil inteiro, mas é sabido que a qualidade do que se ministra nos cursos de magistério deixa muita a desejar. Temos que melhorar os cursos de preparação dos professores, na dupla condição de conteúdos mais adequados e uma presente interatividade, palavra que pode enriquecer, e muito, o que se passa hoje em sala de aula. Para acabar com essa vergonha, só uma ampla reforma.

No ensino público: faltam 400 mil professores no ensino básico (fundamental e médio) no País. A maior carência é para as disciplinas de matemática, química, física e biologia. Há escolas que nem as têm na grade.

Estamos vivendo tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, em nosso país, especialmente se considerarmos a educação pública. Os resultados são catastróficos. Houve queda no desempenho em matemática. Na redação foi pior ainda. Vamos caminhando para o fundo do poço. Ou seja, são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares.

O que se pode esperar dessa geração?

Os debates se sucedem e nem sempre as teses são renovadas. Repetem-se conceitos e reclamações, como se a educação brasileira fosse mesmo um imenso e monótono realejo.

A educação brasileira é um dos tristes marcos do período republicano e nos três últimos governos. E talvez venha a repetir o mesmo ciclo de frustrações no atual governo.

Atualmente, o que ocorre é um conflito entre português de Portugal e português brasileiro nas escolas. Pois quando um aluno diz que não sabe português, na verdade, está dizendo que não sabe as normas da gramática do português ensinado na escola.

Uma pessoa que diz que não sabe português é porque acha que saber português é saber o que é uma oração subordinada substantiva objetiva direta completiva nominal reduzida. E isso, quase ninguém sabe. Nem mesmo o senhor. Nem mesmo os professores de português formados e na ativa já há bastante tempo. Então, temos aí um grande imbróglio para resolver, a formação docente.

O importantíssimo é ter em mente: há comunicação, há aprendizado. Se há ação do signo, mentes elaborando conteúdos, há aprendizado, há diálogo.

Enquanto isso, o analfabetismo cresce, em vez de decrescer, seja pelos milhões acumulados de seres humanos que nunca pisaram numa sala de aula, seja por outros milhões que deixam a escola sem nada aprender, como é o caso dos analfabetos funcionais, essa nova praga que ameaça comprometer o futuro da nação. Isso significa que a maioria desses jovens chega ao final do curso sem saber ler e escrever ou fazer as quatro operações aritméticas, o que é tão mais grave quanto se sabe que ler, escrever e calcular são os pré-requisitos básicos da vida cultural e da sobrevivência competitiva dos seres humanos.

A Educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e violência.

Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor.

COMENTÁRIOS