Diretor do Detran-MS confirma indicações políticas e nem sabe quem são os nomeados



Luiz Rocha assumiu oficialmente o Detran-MS em fevereiro, vindo da Sanesul. (Foto: Divulgação Sanesul)

Após denúncias de ‘cabide de emprego’ para acomodar aliados em cargos públicos sem concurso no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), o atual diretor-presidente do órgão, Luiz Carlos da Rocha Lima, admitiu ao Jornal Midiamax que as nomeações de servidores do órgão costumam ser feitas politicamente e confessou que nem sequer conhece alguns dos novos integrantes do quadro de funcionários no órgão que dirige.

Apesar disso, ele garante que só permanecerão ocupando cargos públicos quem preencher critérios técnicos e de produtividade. Segundo Luiz Lima, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), inclusive, não só estaria ciente da prática no Detran-MS, como teria dado instruções sobre como agir.

“O governador sempre me deu uma orientação: as pessoas são nomeadas, e no momento que elas entram pra dentro do órgão elas podem ser apadrinhadas ou não ser, ou de amigo ou de parentes ou qualquer coisa de quem quer que seja politicamente, mas ela tem que corresponder. Se elas não corresponderem com isso, elas não permanecem”, relata.

Sobre a escolha dos nomes, informou se tratar de uma questão de “diretrizes do Governo”. “As nomeações que são de cargos são livres nomeações do Governo, da Casa Civil”, pontuou.

Ele admitiu o ingresso de dezenas de comissionados recentemente, mas disse não ter tido acesso e nem participação na escolha de nenhum deles, apesar de ser o direto-presidente do órgão. “Eu não conhecia ninguém dentro do Detran, não podia avaliar nem interferir porque eu ainda desconhecia ”, admite.

Denúncia de servidores apontou que o órgão se transformou em um verdadeiro “cabide de empregos”, com o ex-diretor-presidente, deputado estadual Gerson Claro (PP), definindo quem ocupa funções estratégicas e arrumando espaço para acomodar aliados políticos em cargos técnicos.

O parlamentar revelou que após as exonerações feitas pelo Governo do Estado no início deste ano, vários deputados intercederam por comissionados. A medida seria uma forma de garantir espaços estratégicos por meio de cargos públicos, com vistas às eleições municipais de 2020.

Apesar de não ter poder sobre o quadro do órgão que comanda, Luiz da Rocha garante que as indicações externas de comissionados possuem caráter técnico. Mas confessa não saber se todos os que atuam no órgão estão aptos a exercerem as funções. “Hoje eu não conheço as pessoas, não sei o quanto elas são responsáveis pelos cargos que elas ocupam, é cedo para uma avaliação”, explicou.

“Ganha um cargo, ganha uma responsabilidade”

Empossado no início de fevereiro vindo da diretoria da Sanesul, Rocha destaca que sua função será garantir que todos irão cumprir com as obrigações do cargo – independente de apadrinhamento político.

A conduta, segundo ele, será a mesma adotada na Sanesul com exigência de produtividade, eficiência e proatividade, além de capacidade técnica. “Eu recebi do governador a responsabilidade de fazer uma avaliação de todos os cargos. Aqueles que não correspondem com aquelas diretrizes do Governo de serem proativos e eficientes não ficam. Assim foi na Sanesul e assim vai ser no Detran”, assegurou.

Perpetuação do poder

Segundo denúncia, feita ao jornal por servidores de carreira lotados no órgão estadual, as mudanças na direção após a Operação Antivírus sempre preservaram o poder de Gerson Claro e do grupo político que ele representa.

Logo após a prisão do atual deputado pelo PP, passaram pela presidência do Detran-MS o ex-prefeito de Nova Andradina, Roberto Hashioka, e o servidor Luis Carlos da Rocha Lima, que está no cargo até o momento.

Mesmo assim, Claro continuaria definindo quem ocupa funções estratégicas e arrumando espaço para acomodar aliados políticos em cargos técnicos. Um dos voluntários de sua campanha foi a mais nova nomeação, para atuar como gerente da agência do Detran-MS no Prático do Aero Rancho, em Campo Grande.

Genis Garcia Barbosa, apoiador eleitoral de Gerson Claro, foi designado para exercer o cargo em comissão de Gerência Executiva e Assessoramento, símbolo DCA-10, com o decreto 611, assinado pelo governador Reinaldo Azambuja em 27 de fevereiro de 2019.

Segundo servidores concursados, os apadrinhados estariam tão ‘folgados’, que chegam a ironizar a escalada para cargos de gerência. Antes mesmo de assumir, o comissionado recém-nomeado fez questão de postar uma foto com Claro no corredor da Assembleia Legislativa em grupos de funcionários do Detran-MS no WhatsApp. Na legenda de Genis, uma provocação: “tá clareando cada vez mais”.

Apesar de admitir o vínculo eleitoral com Gerson Claro, Genis disse acreditar que o critério foi técnico para conseguir chegar a uma gerência no Detran-MS.


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