Em queda de braço com filho de Bolsonaro, Bebianno perde estatura no Governo

Apoiado por militares e por parlamentares, ministro balançou no cargo, mas, por ora, fica, sob desconfiança do chefe. Ele deve ter menos autonomia no Planalto


Por El pais

Gustavo Bebianno, em outubro de 2018, no Rio. SERGIO MORAES REUTERS

A primeira queda de braço entre a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e os políticos que lhe dão sustentação foi vencida, por ora, pelo segundo grupo. Nessa sexta-feira, o presidente decidiu manter em seu Governo o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência da República, mesmo depois de o mandatário o chamar de mentiroso nas redes sociais e em uma entrevista à TV Record. Dessa forma, quem sai enfraquecido nessa disputa é o vereador-tuiteiro Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente que não tem cargo no Governo, mas é um dos principais divulgadores voluntários das ações da gestão, assim como o responsável pelas redes sociais de seu pai. Carlos foi o primeiro a “desmentir” Bebianno no Twitter e também quem transformou uma questão partidária-eleitoral na primeira crise política do Governo federal.

Por ter presidido interinamente o PSL durante o período eleitoral de 2018, Bebianno é apontado como um dos responsáveis pelas candidaturas-laranjas do partido nos Estados de Minas Gerais e Pernambuco. Ele autorizou a destinação de recursos públicos, por meio do fundo partidário, para concorrentes que não tinham votos e, aparentemente, nem campanha fizeram. Em sua defesa, o ministro alega que ele só destinou os valores às pessoas que foram indicadas pelos diretórios estaduais da legenda.

Ao menos dois fatores pesaram na decisão de manter Bebianno no cargo. O primeiro foi a tentativa de mostrar que quem tem as rédeas de seu Governo é o próprio presidente, e não seus familiares. Essa interferência dos filhos é uma das principais queixas dos núcleos militar e político do Planalto, além de aliados, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A preocupação é que essa falta de comando pudesse interferir em votações consideradas importantes pelo Executivo no Congresso, como a reforma da Previdência e o polêmico pacote anticrime do ministro Sérgio Moro.

O segundo fator foi a dedicação que o ministro empenhou nos últimos dois anos, quando passou a trabalhar para Bolsonaro até se tornar presidente interino do PSL, coordenar a campanha eleitoral dele e ser o principal tomador de todas as decisões estratégicas no pleito – o que envolveria desde a distribuição de recursos até no tipo de propaganda que seria feita. Ou seja, ele sabe muito mais do que boa parte dos assessores e, por um longo período, atuou como braço direito do presidente quando este ainda era deputado federal.

Bebbiano enfraquecido

Além de ter seu filho incentivando essa disputa, Bolsonaro se sentiu traído por Bebianno quando ele agendou uma reunião com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo (do qual fazem parte a TV Globo e o jornal O Globo). Ele também é presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Em uma conversa com Bebianno, enquanto ainda estava internado, o presidente disse a ele que o ministro estaria “colocando o inimigo dentro de casa”. Aliados de Bebianno relataram ao EL PAÍS que o objetivo dele era fazer uma ponte com a maior emissora brasileira. Essa ponte nem chegou a ser construída. A reunião com o executivo da Globo foi cancelada.

Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro tem dado preferência a conceder entrevistas para concorrentes da Globo, principalmente para a TV Record. Também afirmou dezenas de vezes que iria rever todos os contratos publicitários com a imprensa e destinaria as verbas públicas de maneira mais equânime, sem, necessariamente, levar em conta o alcance de cada veículo de comunicação e questionando práticas arraigadas como o chamado "BV" – ou "bônus por volume", recebido pela agência que destina a um determinado veículo um pacote de publicidade Seu grupo político avalia que a Globo tenta manipular a opinião pública contra ele e contra seus filhos. O caso mais emblemático, na visão deles, foi o destaque dado ao escândalo envolvendo o policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, hoje senador pelo PSL do Rio de Janeiro.

Ainda que siga na função, Bebianno deverá ter menos autonomia. Extraoficialmente, no Planalto, sabe-se que ele será vigiado constantemente e até suas agendas passarão a ser monitoradas pelo presidente. Um sinal de que o prestígio dele diminuiu foi dado pelo presidente nesta semana, desde que retornou à Brasília após sofrer uma cirurgia, na tarde de quarta-feira, Bolsonaro teve 11 reuniões, conforme sua agenda pública. Nenhuma delas foi com Bebianno. Além disso, a comunicação de que ele não perderia seu ministério foi dada por dois colegas na Esplanada, que, em tese, não são seus chefes: Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e o general Santos Cruz (Secretaria de Governo).


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