'Ninguém sabe a capacidade de ninguém', diz Dayse Paparoto, vencedora do MasterChef Profissionais


Por Midiamax

Por Daiane Libero / Fotos: Cleber Gellio

Em 2016, uma avalanche de torcidas por uma figura simples e bastante carismática varreu a internet durante a primeira edição do programa MasterChef Profissionais, da Band. O formato televisivo já vem dando certo há algum tempo, e lançando estrelas além dos apresentadores e renomados chefs de cozinha.

Os realities com foco em gastronomia realmente caíram no gosto dos brasileiros e o 'Profissionais' mostrou a prova desse sucesso. Mas o que muitos não esperavam é que uma jovem chef saísse vencedora em uma edição onde técnica e sabor pesavam juntos: Dayse Paparoto.

Mais de um ano depois, a simpática chef esteve em Campo Grande na última semana para participar do lançamento do Território Lab, um espaço que mistura coworking e gastronomia, e que abriu suas portas no último dia 21. Dayse preparou pratos para convidados e ministrou um workshop, que foi um sucesso.

Seu carisma e simplicidade consquista não só seus alunos, mas todo mundo que conversa um pouco com a chef. Atualmente, ela é chef executiva do restaurante Feed Food, em São Paulo, onde já estava antes de ganhar o prêmio de R$ 150 mil da Band. Sua personalidade simples e uma gastronomia bem brasileira se mantiveram como assinatura. Batemos um papo com Dayse, que você confere logo abaixo na íntegra.

Você foi a grande vencedora da primeira edição do MasterChef Profissionais. O que mudou de lá para cá na sua carreira?

Eu acho que o MasterChef me proporcionou visibilidade, pois eu já tenho mais de 14 anos na área e eu acho que um chef demora um pouco para ter essa visibilidade. O MasterChef acelerou esse processo talvez em uns dez anos e a galera pôde conhecer a chef Dayse. Talvez apenas uma minoria conhecesse. Era bem de nicho. O MasterChef coloca um chef para ser popular e não só na área.

Como está sua vida na cozinha agora?

Eu ainda trabalho no mesmo restaurante, o Feed Food em São Paulo. Eu tenho uma equipe, já treino eles há uns dois anos, a cozinha está muito estruturada e eu estou lá sempre, mas agora eu consigo sair mais para fazer esses outros eventos.

Qual a razão que você acredita que fez os brasileiros se identificarem tanto? Esperava essa identificação toda? Imaginou que seria dessa forma?

Eu me preocupei no programa, antes de entrar, não fiquei pensando em ganhar. Não fiquei com uma expectativa, fiquei pensando: ah, vamos ver onde dá. Acho que esse meu jeito tranquilo, de não apostar minha vida toda em um prêmio, se eu não ganhasse não ia morrer também, acho que as pessoas curtiram. Ficou favorável à mim. Está certo que é uma pressão louca, que se você não sente na cozinha, é uma pressão diferente. Tem horas que parece que dá um branco e você nem sabe cozinhar de tanta pressão. E eu acho que foi a minha postura de não ligar para o prêmio que me ajudou, as pessoas gostaram do meu jeito. Eu só fui eu mesma, tranquila e não sou muito chegada em "nove horas", gosto do negócio simples.

As cozinhas são ambientes conhecidos por muitos abusos morais. Chefs nervosos, que arremessam pratos. Você mesma já relatou que passou por isso. O que pensa sobre essa questão da carreira gastronômica?

Catorze anos atrás as cozinhas já eram um pouco similares às europeias. Vinham os chefs europeus, que vieram de lá, e por lá a cozinha é muito "Hitler", o próprio Jacquin (jurado do MasterChef) já levou soco, já levou tapa, e eles reproduzem o que acontece por lá. Eu também já passei por muita coisa. Teve um chef que queria me 'testar' pois ele não gostava de trabalhar com mulher. E eu aguentei, fiquei ali. Mas acho que hoje tem duas coisas: não tem necessidade disso, e chegou um momento da minha carreira, há uns dez anos atrás, que eu me vi reproduzindo esse mesmo comportamento nos meus funcionários, e pensei "eu não preciso fazer isso". Hoje em dia eu trato meus funcionários na cozinha bem diferente. Antes eu ia trabalhar com febre, dor de cabeça, vomitando, e eu achava que o funcionário tinha que ir assim também. Depois eu vi que não é assim, que a violência é pior, e hoje minha cozinha é bem diferente, meus funcionários são quase meus amigos, todo mundo é muito unido. Eu viajo e eles mandam: "poxa chef, estou com saudade". A gente passa muito mais tempo dentro da cozinha do que com a família da gente, e eu tornei o ambiente da cozinha muito mais leve, foi algo que eu quis fazer. Eu mesma fui aprendendo com a vida e mudei. Mas também tem um outro lado que as pessoas não entendem, que é o estresse. Na hora do "marcha" e sai você não consegue ter delicadeza, então é "pega a colher, vai", então nessa hora não existe muito "por favor". Mas acabou essa parte todo mundo sabe que é o momento do calor.

Pouco antes da sua vitória, um vídeo compilado pela moça à frente da página "As Mina Na História" mostrava seguidamente episódios onde os 3 participantes Ivo, Marcelo e Dário repetidamente te deixavam de lado e faziam críticas severas ao seu estilo de cozinha, considerado por muitos como machismos. Como você reagiu a isso? Foi chocante assistir depois?

Foi um pouco chocante. Quando eu vi no vídeo pensei: "nossa, caramba", pois eu sou tão desligada! Acho que as pessoas ficaram mais ofendidas do que eu, pois eu tenho um jeito de "ah, faça o que você quiser". Eu fiquei tranquila. Todo mundo pode falar com você do jeito que quiser, e falar o que quiser de você, agora se você vai pegar isso para você é um papel seu. Se eu vou acreditar nisso é problema meu. E eu acho que fiz isso, nem peguei para mim. Ninguém sabe a capacidade de ninguém. O programa me ajudou nisso, eu era um pouco insegura. Acho que por causa disso os participantes acharam que eu não tinha capacidade por causa disso. Pois eu nunca falava "vou ganhar", eu falava: "vamos ver". E deu tudo certo.

Qual seu tipo de gastronomia favorito?

No restaurante que eu trabalho é muito misturado, não tem nomeclatura. Eu gosto de comida que você coloca na boca e pensa: "nossa, que delícia". Respeito a gastronomia conceitual, mas não gosto. Gosto daquela massa com molho cremoso, aquela carne saborosa, aquela comida que você coloca na boca e pensa: "quero mais". Gosto do que é simples e gostoso.

Você pensa em abrir seu restaurante?

Eu não sou boa com números, meu negócio é cozinhar. Te dou até o exemplo do Jacquin, foi dono de restaurante e faliu. Eu prefiro ser chef, como sou no Feed, tenho minha equipe que demorei anos para deixar minha equipe do jeito que gosto, e agora tenho um chef quase minha cópia. Se eu fosse dona, ia ter que pensar em coisas que eu não quero.


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