Na noite mais fria do ano, reclamação de morador de rua é a frieza das pessoas na capital


Midiamax

Em frente a igreja Santo Antônio, na área central da Capital, um jovem tomava sol, enrolado em uma coberta, na tentativa vencer o frio. Para quem vive na rua, dias como este são um verdadeiro castigo, mas para o rapaz de 26 anos, o pior das ruas não é questão de tempo, e sim o invisível. “O pior é o frio das pessoas, é ser ignorado”, diz. Na madrugada dessa terça-feira (18) a sensação nas ruas da Capital era de -3ºC.

Durante o dia flanam pelas ruas da cidade, em busca de dinheiro e comida, e ao escurecer correm atrás de abrigos; alguns deles improváveis, mas que retratam bem o sofrimento de quem não tem um lar. Agências bancárias se tornaram abrigos para as noites frias do inverno campo-grandense. O piso liso vira cama ao lado de caixas eletrônicos. “Nunca tive cartão, nem cheque, a primeira vez que entrei foi para dormir”, recorda o morador que há anos está longe da casa em Corumbá.

Em uma cama pode caber quantas pessoas? Na travessa Lidia Baís, no Centro de Campo Grande, um amontoado de colchões na calçada acolheu cerca de 20 pessoas na madrugada considerada a mais fria do ano. Aqui, o frio só não foi maior por causa de doações e mesmo com o pouco não reclamam. “Se está frio reclamam do frio, se está quente reclamam do quente. Passamos frio nenhum aqui”, disse sorrindo uma moradora.

A beira do córrego na avenida Ernesto Geisel foi o abrigo escolhido por Givaldo Goberto de Souza, 58. “Lá é melhor do que ficar se misturando com esse pessoal de rua, usam drogas, é perigoso. Pelo menos lá não corro perigo”, conta, ele que é de Cuiabá e está há um mês em Campo Grande.

Givaldo trabalhou a vida toda em carvoaria e a consequência do trabalho árduo foi uma tuberculose. O destino era São José dos Rios Pretos, mas atrás de familiares que já não moram por essas terras, ele ficou sem ter para onde ir. A história é penosa, inclui documentos perdidos e dias de frio no meio. Agora ele espera seu RG (registro Geral) ficar pronto para então seguir viagem.

Nesta madrugada o Cetremi (Centro de Triagem de Migrantes - onde ficam alojados os moradores em situação de rua e migrantes) recolheu para 79 desabrigados. Estima-se que Campo Grande tenha 1,2 mil pessoas estejam em situação de rua.


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