Ministro da Cultura pede demissão e diz que a pasta se tornou 'inviável'


Folhapress

João Batista de Andrade, filiado ao PPS, pediu demissão do cargo de ministro da Cultura - Foto: Divulgação

O ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, pediu demissão nesta sexta (16). Em carta enviada ao presidente Michel Temer, Andrade afirmou não ter interesse em continuar na pasta da qual se tornou titular depois da saída de Roberto Freire, que deixou o cargo em maio quando vieram a público gravações de Joesley Batista, da JBS, em conversas suspeitas com Temer.

Andrade, que é filiado ao PPS, disse à reportagem que motivaram seu pedido de demissão o corte de 43% do orçamento sofrido pelo Ministério da Cultura, há dois meses, e polêmicas envolvendo a nomeação do presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Ele afirma que Debora Ivanov, com apoio de cineastas e do ex-titular do ministério, deveria ocupar o cargo, mas o governo Temer preferiu outra indicação.

"O que acontece é que o presidente tem direito de fazer isso, mas não é a boa política desautorizar o Ministério da Cultura", disse Andrade.

Ele também afirma que, após o corte orçamentário, o ministério se tornou "inviável". "Era um ministério que já estava deficiente. O Fundo Nacional de Cultura, que já teve R$ 500 milhões na época áurea, hoje tem zero de recurso. É um ministério inviável tratado de forma a inviabilizá-lo ainda mais."

Andrade, terceiro a assumir o comando do Ministério da Cultura desde o início do governo Temer, acrescentou ainda que o país vive um "quadro desfavorável para a política cultural" e não opinou sobre futuros nomes que possam assumir pasta.

BASTIDORES

Segundo integrantes do Palácio do Planalto, a disputa na Ancine havia desgastado a relação do governo com o ministro interino e Temer já avaliava nomear o novo comandante da Cultura assim que voltasse de sua viagem à Rússia.

Mesmo com o pedido de demissão de Andrade, o presidente decidiu que não antecipará a nomeação e estuda os nomes do deputado André Amaral (PMDB-PB) e da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) para assumir a pasta.

Andrade queria nomear o presidente da Ancine mas se deparou com indicações do próprio Planalto e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o posto.

No acerto do governo, Sérgio Sá Leitão ficaria na presidência da agência e o nome indicado por Maia, aliado de primeira ordem do presidente, assumiria uma diretoria da Ancine, descartando, assim, a opção de Andrade.

Quando o então ministro interino tomou conhecimento de que não conseguiria influenciar nas nomeações, fez chegar ao Planalto sua irritação e descontentamento, o que desagradou a Temer.

"Não quero participar desse sorteio de quem será ministro. Eu me recuso a participar disso", afirmou. "Deixo o governo livre para indicar quem quiser. Pesa muito a incapacidade enorme de superar essa crise."

Leia a íntegra da carta de demissão de João Batista de Andrade:

"Brasília, 16 de junho de 2017.

Ao Excelentíssimo Presidente da República

Senhor Michel Temer

Ref.: Vacância do cargo do Ministro Interino da Cultura

Comunico a Vossa Excelência, respeitosamente, o meu desinteresse em ser efetivado como Ministro de Estado da Cultura, posto que venho exercendo interinamente, e por determinação legal do regimento interino, por ser o atual Secretário-Executivo do Ministério da Cultura.

Assim sendo, confirmo a minha disposição para contribuir da forma mais proativa possível com a transição de gestão no Ministério da Cultura, até a nomeação do próximo Ministro de Estado da Cultura e seu respectivo Secretário-Executivo.

Respeitosamente,

João Batista de Andrade
Ministro do Estado Interino da Cultura
"


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