Saiba como se proteger de boatos nas redes sociais

Primeira coisa a ser feita é não compartilhar histórias falsas: "boatos só espalham porque as pessoas compartilham”, disse especialista


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Vítima deve apresentar contra narrativa / Parker Byrd/Unsplash

Você já imaginou ser alvo de boatos nas redes sociais? Ou ter sua vida completamente exposta na internet? Histórias envolvendo redes, mentiras e linchamentos virtuais têm se tornado cada vez mais comum.


Após ter uma discussão em uma festa, a cientista social Carol*, de 28 anos, resolveu expor o agressor nas redes sociais – que possui diversos seguidores – contando o que tinha ocorrido no dia, com detalhes e testemunhas. Foi aí que boatos começaram a surgir.

Em meio à repercussão da história, alguns internautas começaram a divulgar informações falsas sobre a jovem, desde endereços, ex-namorados e supostos processos que a envolviam, mas, como mantém todos os perfis bloqueados, as agressões não foram muito além.

 
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“Não aconteceu nada porque eu não quis me expor e prolongar a história. Ele não divulgou meu nome”, disse. “A única coisa que fiz foi tirar certidões negativas na Justiça para caso precisasse comprovar que não tenho nenhum processo em nenhuma vara, seja cível ou criminal. Ele fez isso pra deslegitimar e enfraquecer meu relato, porque eu não tinha motivo para inventar”, falou.

Casos como este citado acima não são incomuns. Alguns, inclusive, podem chegar a finais trágicos, como linchamento e morte.  

Segundo dados da ONG SaferNet, que defende e promove os Direitos Humanos na Internet, a página recebeu e processou, em 11 anos, 3.060.502 denúncias anônimas envolvendo 520.067 páginas da internet. Os crimes envolvem desde racismo, intolerância religiosa e até pornografia infantil.  


As redes sociais que receberam maior número de denúncias durante esses anos foram o Orkut (quando ainda estava ativo), seguido pelo Facebook e Twitter.

O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, explica que, nessas situações, a primeira coisa a não ser feita é compartilhar os boatos, caso o internauta receba. “Os boatos só espalham porque as pessoas compartilham”, disse.

Para Tavares, a vítima de informações falsas em qualquer rede social deve apresentar sua “contra narrativa”. “Do ponto de vista imediato, a pessoa deve contar uma contra narrativa, um contra discurso. Ela deve mostrar, com outros argumentos, que aquilo mencionado não é verdadeiro”, explica o presidente da SaferNet. Os veículos de comunicação podem ajudar na apuração da história. “O jornalismo tem esse papel porque checa e apura tudo antes de publicar”.

Thiago Tavares explica ainda que, em algumas situações, é necessário registrar um boletim de ocorrência na delegacia. “Do ponto de vista criminal, depende de cada caso. Na situação do linchamento no Guarujá, por exemplo, teve grande repercussão criminal. Alguns podem gerar crime contra honra, calúnia, apologia ao crime etc”, disse.


“O que acontece é que é o Brasil é um país da impunidade. Na internet, as pessoas se sentem ainda mais confiantes que vão ficar impunes”, completa.


Alguns casos – como os citados abaixo –  acabam de forma trágica ao serem “resolvidos” com a famosa “justiça com as próprias mãos” e são considerados crimes, como lembra o especialista. De acordo com o código penal, o ato pode render uma pena de 15 dias a um mês de detenção, além da pena correspondente à violência.


Algumas histórias envolvendo divulgação de notícias falsas pelas redes ganharam grande repercussão na mídia. Relembre alguns casos na lista:

Homem e mulher são espancados no Rio


Um homem e uma mulher foram espancados, em abril deste ano, em Araruama, no Rio de Janeiro, após serem vítimas de um boato de que estariam sequestrando crianças. A informação viralizou em grupos de WhatsApp, que incluíam fotos dos dois e do carro em que estavam, inclusive com a placa.

O carro foi depredado por moradores e depois incendiado por uma mulher, que foi presa em flagrante. 


Homem é ameaçado de morte por boato de WhatsApp


O serralheiro Carlos Luiz Batista, de 39 anos, foi vítima de um boato espalhado por grupos de WhatsApp, e depois por redes sociais como o Facebook, que relacionaram a imagem do morador de Campo Grande, Rio de Janeiro, a um sequestrador de crianças.


Assustado, o homem gravou um vídeo na tentativa de desmentir o que já estava fora de controle. Após duas semanas que definiu como “desesperadoras”, a vítima do boato acredita que o vídeo melhorou um pouco sua situação.


Mulher é linchada após ser acusada de bruxaria 


Em um dos casos mais famosos envolvendo linchamento, Fabiane Maria de Jesus, de 38 anos, foi acusada de sequestrar uma criança para um ritual de "magia negra".


Mãe de duas filhas, ela era portadora de transtorno bipolar e, segundo o advogado dela, a confusão teria sido causada por informações divulgadas em um perfil no Facebook. O vídeo que mostra a mulher sendo espancada foi vigulgado e circulou nas redes.


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