Emissão de títulos de dívida por agricultores enfrenta entraves, diz Itaú BBA

Agricultura empresarial movimenta anualmente 40 bilhões de reais em crédito com condições controladas


Reuters

O número de produtores agrícolas com capacidade de utilizar mecanismos do mercado de capitais para captar recursos, como alternativa aos empréstimos obtidos junto aos bancos, ainda é muito pequeno e há diversas barreiras para ampliar esse uso, quando a iniciativa é exclusiva do agricultor, avaliou nesta terça-feira um executivo do banco de investimentos Itaú BBA.

 

Instrumentos financeiros, como os CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio), vem sendo uma aposta do governo federal para custear o setor, em um momento em que o crédito oficial subsidiado torna-se cada vez menos abundante. Mas esse mecanismo acaba sendo mais usado somente quando grandes companhias, como tradings agrícolas, estão envolvidas no processo.

 

Para a emissão direta pelos produtores rurais, o que seria uma alternativa de captação mais barata do que os financiamentos bancários, ainda há diversos entraves.

 

"É um mercado muito pequeno, ainda precisa evoluir... Não é qualquer um que está qualificado", afirmou o diretor de Produtores Rurais do Itaú BBA, Antônio Carlos Ortiz.

 

Pelas estimativas do Itaú BBA, a agricultura empresarial, que reúne um universo de cerca de 100 mil produtores rurais, movimenta anualmente 40 bilhões de reais em crédito com condições controladas (muitas vezes por oferta e regulamentação do governo) e 60 bilhões de reais em condições de livre mercado (incluindo juros negociados diretamente entre bancos e agricultores).

 

Deste universo, uma parcela muito pequena, praticamente impossível de calcular, é de crédito obtido por meio do mercado de capitais, com emissões de títulos pelos próprios produtores.

 

Segundo Ortiz, o número de agricultores com condições de realizar a emissão de títulos, como o CRAs, seria suficiente apenas para encher a sala de reuniões em que ele conversou com jornalistas nesta terça, na sede do banco em São Paulo.

 

"Quase ninguém tem números auditados", disse o executivo, citando um dos pré-requisitos para lastrear a emissão dos títulos, que é a total transparência das finanças do produtor rural ou sua empresa, reduzindo a percepção de risco por parte do comprador.

 

Além disso, devido aos custos de estruturar os detalhes burocráticos dos títulos e de oferecê-los aos investidores, trata-se de um mecanismo mais adequado para captar grandes volumes de recursos, da ordem de 50 milhões a 60 milhões de reais, ou mais. 

 

"Operações pequenas não compensam... Tendem a ser operações maiores e para prazo maior", disse Ortiz.

 

O executivo lembrou que a emissão de títulos de dívida para negociação no mercado de capitais já é uma prática corriqueira por parte de grandes empresas, como tradings de commodities e indústrias de insumos, mas que "está começando agora" entre agricultores.

 

Ainda assim, Ortiz destacou que a presença deste tipo de mecanismo no mercado tende a melhorar as condições para o financiamento de toda a cadeia do agronegócio.

 

"Isso aumenta a concorrência financeira na cadeia como um torno", afirmou.


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