Integração para otimizar resultados

Como o sistema ILPF tem otimizado os resultados Apostas na diversidade de sistemas em propriedades passam de preocupação para sinônimo de crescimento, lucratividade e perspectiva de novos negócios


Agrolink

Independente do complexo cenário nacional, a agricultura permanece, ano a ano, como uma das principais bases na economia do Brasil, desde a colonização até os dias atuais. Apesar dos gargalos e dificuldades, da logística a preços, entre outros indicadores que vão, sempre, nortear as preocupações do empreendedor rural. O fato é que o Brasil é um país com vocação para produção de alimentos e, por estar entre os maiores produtores do planeta, atende e/ou aponta necessidade de atenção para o aumento da produção, produtividade, profissionais (protagonistas no crescimento do setor) e, também, pela necessidade de manutenção - e alimentação - de um mercado com demanda constante. 

Neste contexto, em que se prioriza a produção, produtividade e sustentabilidade, a adoção de sistemas que façam a Integração entre a Lavoura, a Pecuária e a Floresta, desponta como alternativa para considerável ganho aliado à conservação ambiental.  E, por conseguinte, ao fomento à disseminação de uma cultura de negócios ambientalmente responsável.

Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC)

Através da busca pela sustentabilidade e a necessidade em reduzir os danos ao meio ambiente, foi criado o Programa ABC. O programa é baseado em medidas que visam incentivar os produtores que adotarem sistemas produtivos mais sustentáveis. O foco é a redução das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE), cumprindo desta forma as metas de diminuição assumidas com as Nações Unidas até o ano de 2020.  

O Brasil está em 14º lugar do ranking dos maiores emissores dos GEE. Problema emergente e urgente, a mudança em relação ao clima é - ou deveria ser – prioridade.  O país demonstrou um compromisso antecipado com a ação climática na Conferência das Nações Unidas de 1992, quando o meio ambiente e desenvolvimento foram o centro de debate. Fato, contudo, é que a conhecida Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, tem de ser relembrada. 

Foi no ano de 2008 que o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) foi lançado, com a proposta de reduzir em 70% o desmatamento até 2017 e adotou a Política Nacional de Mudança Climática em 2009, a qual estabelece metas voluntárias de redução das emissões dos GEE (uma redução de 36,1% a 38,9% das emissões projetadas para 2020). O PNMC afirma que os direitos de desenvolvimento das pessoas de baixa renda não devem ser prejudicados por ações que visem a evitar futuras emissões dos GEE. 

A integração não otimiza só resultados, mas têm, também, compromisso com a sustentabilidade

Na filosofia que norteia o Programa ABC, estão elencados estímulos à adoção de diversas atividades que visam a sustentabilidade aliada à produção. Entre eles, aparece o sistema de Integração Lavoura - Pecuária – Floresta (ILPF), que prevê o aperfeiçoamento do uso do solo, com aumento de produtividade e compromisso com a sustentabilidade. Desta forma, a ILPF torna-se um dos grandes protagonistas nas questões ambientais, como a teoria já explica e os resultados também apontam: o sistema é eficaz para que os produtores tenham a opção na adoção de uma técnica mais sustentável. 

A ILPF tem como foco melhorar a fertilidade do solo, com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados para potencializar a intensificação de seu uso e também o objetivo na mudança do sistema de uso da terra, fundamentando-se na integração dos componentes do sistema produtivo, visando atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade do produto, conservação ambiental e competitividade. No Brasil, estima-se que há cerca de 3 a 4 milhões de hectares sob sistema de integração, sendo o estado do Mato Grosso líder na prática.  “A Integração é uma evolução natural do sistema produtivo moderno que visa formas de viabilização econômica da atividade de produção, através de diversificação da atividade”, declara o pesquisador da Embrapa, Vicente de Paulo Campos Godinho. 

Otimização do uso do solo X ganhos ambientais

O sistema de ILPF é conceituado como o sistema que integra os componentes lavoura, pecuária e floresta, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área - possibilitando que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de carne e de leite a um custo mais baixo, devido ao sinergismo que se cria entre os diversos componentes (lavoura/pastagem/floresta).

Diante do conceito do sistema, a alternativa é considerada viável no quesito produção para recuperação de áreas alteradas ou degradadas. Dentre as alternativas de boas práticas agrícolas e pecuárias, que minimizam os impactos ambientais decorrentes da exploração do solo, a integração possibilita a redução do uso de agroquímicos, da abertura de novas áreas para fins agropecuários e do passivo ambiental. Desta forma, possibilita a manutenção da biodiversidade e a diminuição dos processos erosivos, através da manutenção da cobertura do solo.  Isto porque, aliada a práticas conservacionistas, como o plantio direto, se constitui em uma alternativa econômica e sustentável para elevar a produtividade de áreas degradadas.

O pesquisador da Embrapa, João Kluthcouski, afirma que o sistema “é eficaz principalmente pelo fato de recuperar o solo e a pastagem, produzir pastagem na entressafra, mitigar os efeitos dos GEE, aumentar a matéria orgânica no perfil do solo, infiltrar um maior volume de água, reduzir perdas por veranicos, reduzir a atuação de fungos do solo, bem como de reciclar nutrientes”. É um sistema conservacionista, que permite o aumento da produtividade.

As condições climáticas como fator imprevisível na Agricultura

As condições climáticas são um dos fatores de maior relevância na agricultura. A variedade dos produtos agrícolas é possível graças aos diversos biomas brasileiros. Porém, o grande desafio, por ser um país de clima tropical, é a dificuldade em manter um padrão de qualidade e eficácia em clima predominantemente quente e úmido. Nenhum outro país enfrenta realidade semelhante no campo.

O país tem um perfil singular de emissões de GEE. A agricultura e a pecuária são responsáveis por 25% do produto interno bruto (PIB) e requerem a expansão contínua da terra para cultivo e pastagem, levando à conversão da vegetação nativa. A mudança no uso da terra, especialmente o desmatamento, é a principal fonte de emissões nacionais de GEE. Os abundantes recursos naturais do Brasil e seu vasto território têm permitido o desenvolvimento de energia renovável com baixas emissões de carbono. Historicamente, grandes investimentos são necessários para a obtenção de energia renovável. Exemplo disto, são os investimentos em hidroeletricidade, com 75% da capacidade de geração instalada, e do etanol, proveniente da cana-de-açúcar, que substitui 40% do combustível de gasolina, que permitiram a diminuição da intensidade do carbono da matriz energética do Brasil causadas pelos transportes.

Visto pelo lado do investimento, vale lembrar que a Integração é um dos sistemas que pode ser mais valioso quanto aos fatores de preservações do meio ambiente e com menor necessidade de gastos.  

Do campo e da terra, a integração aposta na produtividade

Não é a toa que o agronegócio hoje é analisado sob a ótima do mundo dos negócios e, notadamente, traz lucros para todos setores econômicos do País.  Atualmente, o produtor rural tem condições de se adaptar às tecnologias e as melhores alternativas para que a produtividade e o lucro andem lado a lado. 

O produtor de Minas Gerais, Vicente de Paula Machado, do Sítio do Valão, em Senador Côrtes (MG), adotou o sistema de Integração no ano de 2005 e, a partir de 2007, os primeiros resultados começar a aparecer. “Após dois anos de frustração e insistência, alcançamos os primeiros resultados com a Integração, Lavoura e Pecuária. O sistema não termina, ele é um processo que só vai ser finalizado, quando não o quisermos mais”, ressaltou o Produtor. 

O trabalho com ILPF no Sítio do Valão evidenciou a viabilidade dos objetivos do sistema, como a melhoria das pastagens, agregação de valores e conservação do solo. Vicente destaca principalmente o fornecimento de sombreamento para os animais, pois dessa forma os animais pastam com mais tranquilidade, além de tudo é possível se ter uma melhor conservação do solo. 

“O que mais nos conduz a este sistema é a conservação do solo – pois sem solo não temos nada. Se tivermos a oportunidade de facilitarmos o futuro com atitudes sustentáveis, nós faremos imediatamente”, o produtor ainda declara que o resultado financeiro é uma consequência disso. 

Integração: a dose certa para bons resultados

A ligação de áreas dentro de um mesmo espaço comprovou que a ILPF é um sistema inovador mas, sobretudo, promissor. Além disso, o olhar e atuação focados na integração desencadearam o gerenciamento do atendimento de necessidades de todas as pontas: como água e luz e de que forma são compartilhados.

Na Integração lavoura e pecuária, a floresta não só otimiza os resultados, como destacamos. A operação concomitante, sustentada na diversificação, rotação, consorciação ou sucessão, de forma planejada, vem comprovando e anunciando benefícios para as atividades agrícolas envolvidas. Mas, especialmente, ao protagonista: o agricultor que, com comportamento e atuação renovados e alicerçados na administração estratégica, apresenta-se com um empreendedor, sensivelmente agregando valor, sabendo identificar oportunidades e transformá-las em um negócio lucrativo.


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