Após 3 meses de prisão, Delcídio diz que saiu 'uma pessoa melhor'



Solto após quase três meses de prisão, o senador Delcídio do Amaral (PT) conversou hoje com a reportagem do Jornal Midiamax. Falou do que sentiu ao ficar em uma cela e quais são os planos para o futuro. Na entrevista, por telefone, falou da importância da família, da defesa que pretende fazer, da relação com os amigos e com colegas de partido. Dolcídio contou que aproveitou os dias para ler muito e se concentrar na defesa que pretende fazer, tanto no Senado quanto na Justiça. Apesar da dificuldade que passou no período, o senador se mostrou tranquilo e não fugiu de nenhuma pergunta sobre os dias da prisão e as acusações que sofre. Apesar dos vários dias presos e com situações constrangedoras, como o afastamento do partido e votação esmagadora no Senado para que permanecesse preso, o senador afirmou que sai sem mágoa ou revanchismo. Ele também não descartou continuidade na vida política.

Como foram estes dias do senhor na prisão. O que o senhor sentiu e que conclusões tira, principalmente em relação ao comportamento das pessoas contigo?

Foi uma experiência difícil, mas saio pessoalmente muito melhor. Me surpreendi favoravelmente e desfavoravelmente. Não esperava muita compreensão e solidariedade que recebi intensamente de alguns. Outros que viviam comigo, pareciam estranhos, mas o que recebi de cartas de todo Estado, mensagens, bíblia. Uma coisa espontânea, bacana. Vou falar uma frase de Fernando Pessoa: “Quem questiona muito a vida, é sinal que não entende”, acho que estou entendendo um pouco.

O senhor se surpreendeu com a atitude de algumas pessoas? O senhor era líder de governo, em uma função que não é fácil. Ai aconteceu tudo isso. O senhor se sentiu traído, decepcionado?

Recebi o apoio de lideranças importantes do partido, do  governo, assim como no dia-a-dia acontece. Pessoas que sempre achamos distante, em um momento como este mostra coragem, se aproxima e outros não. O partido reflete a vida da gente. Não fico mais preocupado. Saio (da prisão) sem revanchismo ou mágoa, mas olhando para frente.

Depois de tudo isso, caso consiga provar a inocência, o senhor pretende seguir com a carreira política?

Política é a única atividade no mundo em que você morre e ressuscita não sei quantas vezes. Tenho convicção no bom direito. A gravação foi ilegal, onde alguém se colocou na escuta, em uma conversa com terceiro. O próprio STF já tem jurisprudência. Um senador só pode ser preso em atentado terrorista ou tráfico. Nem na tentativa existiu crime. Parou na conversa.

Mas o senhor conversou sobre uma possível fuga. Não acha que neste caso houve quebra de decoro parlamentar?

Era uma conversa privada. Não de um senador, mas com alguém de uma família que conheço desde pequeno. Ai a conversa rola solta. Ele entendeu que só salvaria o pai dele se gravasse. Esperava que eu fosse falar de dinheiro e, pelo contrário, quando falou disse eu resolvi me afastar. Vou me defender. O que vai ser do futuro, se continuo ou não, só o tempo vai dizer. As coisas são muito dinâmicas.

O senhor acredita que pode ser absolvido no Senado?

A decisão no conselho é política. No final (da gravação) eu digo para ele que o melhor é não fugir e ficar no Brasil mesmo, mas isso ninguém fala. Não era uma conversa de senador, mas de amigo. Igual eu me envolver em uma acidente de trânsito doloso e ser cassado. O que tira do diálogo? Nada. O ministro não fala comigo. Não tem na minha agenda e nem dos ministros um encontro comigo. Agora, só o tempo vai dizer. É uma coisa de dia-a-dia. Só o tempo vai dizer. É um trabalho diário. Tenho uma boa relação com os senadores.

O senhor falou com a presidente Dilma Rousseff (PT) ou com o ex-presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva)?

Não falei com nenhum dos dois. Estou começando a fazer alguns exames nesta semana e em alguns você fica meio grogue, passado. Vou ficar aqui até esta semana e na semana que vem vou para Campo Grande. Vou voltar para a minha casa, minha vida, meu Estado, minha cidade e trabalhar para continuar ajudando meu Estado.

O senhor, neste período, em algum momento chegou a pensar em delação premiada?

Sempre que acontece estas coisas aparece esta conversa. Não aconteceu isso. Vou continuar com o bom direito.

O senhor está afastado do partido. Pensa em deixar o PT?

Agora não estou discutindo estas coisas de partido. Com o tempo as coisas se ajustam. Estou preocupado com o conselho de ética.

Que lição o senhor tira de tudo o que viveu nestes últimos dias com a prisão e toda reviravolta na sua vida?

Primeiro: ouça mais e fale menos. Segundo: desconfie sempre. Neste momento você vê o quanto Deus é importante e a família, que foi heroica. O que eles fizeram ao longo destes dias foi espetacular. Eu, que sempre converso com Deus, agora mais ainda.

fONTE: Midiamax


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